sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Movimento Regionalista - Prefácio ao livro da Socióloga Maria Beatriz Rocha Trindade


Depois de se ter notabilizado como pesquisadora dos problemas da Diáspora Portuguesa através do Mundo, a Profª. Drª. Maria Beatriz da Rocha-Trindade, que dirige o Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI) da Universidade Aberta de Portugal, vai lançar o livro A Serra e a Cidade (O triângulo dourado do Regionalismo).

Quer dizer, chega o estudo que faltava, embora não sejam de menosprezar os
vários livros já publicados sobre o Movimento Regionalista em Arganil, Pampilhosa da Serra e Góis. No entanto, a documentação reunida pela autorizada ensaísta da nossa Emigração é pormenorizada, fundamentada e cientificamente interpretada. Afinal, as questões da Diáspora e do Regionalismo cruzam-se freqüentemente, conforme observou a autora no decurso de duas dezenas de anos de investigações na Imprensa e em numerosos depoimentos e acções que pôde acompanhar. .

A primeira parte do estudo que tivemos o privilégio de ler antes da publicação destaca “A Serra” – vistas e perspectivas da desertificação, referindo a seguir, entre outras questões, as aldeias dos 3 concelhos, além de analisar a “História da migração interna” e o Regionalismo das Gentes da Serra, “Associativismo Regionalista” ,
os eventos regionalistas, financiamento da actividade regionalista, “Os caminhos do sucesso e a construção da notoriedade”, “Novas imagens da Serra”: evolução e funcionalidade das estruturas associativas, o problema da Regionalização e do Regionalismo, o futuro do Regionalismo e, baseando-se em documentos (com vasta bibliografia) o dia a dia de um movimento que teve como pontos fulcrais as comissões, ligas e uniões de melhoramentos, etc. Releva as actividades em Lisboa da Casa da Comarca de Arganil e das Casas dos Conselhos da Pampilhosa da Serra e de Góis.

E é ao falar do Movimento Regionalista que a escritora Maria Beatriz Rocha-Trindade sinalisa o futuro: após as obras realizadas, a partir da 2ªdécada do século
XX, acrescenta: “Aquilo que no passado poderia por algumas pessoas ser considerado apenas como acessório ou lateral passou a ter duas funções principais, nitidamente
Diferentes uma da outra: por um lado, visar a melhoria da qualidade de vida dos mais idosos, quer os residentes nas aldeias quer aqueles que a elas regressarão após a reforma; por outro, criar atractivos às populações mais jovens, tanto os residentes como os visitantes por ocasião de férias, além de proporcionar às crianças e jovens o gosto de estar na terra dos seus ascendentes.”

Não menos significativas são as interpretações sobre o Regionalização e o Regionalismo: “A criação (ou não) de Regiões Administrativas (...) foi submetida a referendo em 1998 e, nesse processo, foi rejeitada”. E diz ainda: “O conceito de Regio-
nalismo, pelo contrário, nada tem a ver com a criação de Regiões Administrativas ou
com a organização dos poderes do Estado. É (...) um sentimento que resulta da iniciativa da sociedade civil, logo de natureza estritamente não-governamental.”

´É muito valiosa a contribuição da Profª. Drª. Maria Beatriz Rocha-Trindade
ao salientar a importância do Movimento Regionalista dos 3 concelhos, até porque não tem similar em Portugal, nem sequer nos outros municípios da Beira-Serra, embora se trate de uma área empobrecida e em fase de desertificação, mas, por isso mesmo, não deve ser ignorada pelos poderes públicos, antes pelo contrário. Porém, essa é outra história... e vamos limitar-nos, por agora, ao registo das informações reunidas pela autora de A Serra e a Cidade, sublinhando que, salvo erro, somente no município de Arganil existem 59 entidades regionalistas, outras 48 em Góis e 63 na
Pampilhosa da Serra. O total é impressionante: 170 associações regionalistas!

A estudiosa oferece dados sobre as datas de fundação: 3 no período da I República, 4 nos anos da ditadura militar (1926-1930) e na época do Estado Novo foram implantadas mais 42 associações e mais 4 (no período de 1960 a 1974), além de outras 6 após 1974. Aliás, os governantes de ontem e de hoje pouco se têm empenhado pelo progresso das vilas e aldeias. Infelizmente, não dispomos dos dados que permitam identificar os gastos governamentais nos anos ditatoriais e depois de 1974.
No capítulo da “Construção e Notoriedade”, a Directora do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta aponta, “entre os filhos da Serra”, o Professor António Nogueira Gonçalves, que tanto contribuiu para prestigiar os intelectuais da Beira-Serra, mas certamente que o tempo e o espaço não lhe permitiram enumerar os inúmeros Mestres Universitários oriundos da Beira-Serra (são em torno da cinquentena desses Beirões que constam da Memória Professorum Universatatis Conimbrigensis de 1290 a 1937).
A autora do livro A Serra e a Cidade cita também entre os estadistas ligados à região o Prof. Dr. Marcello Caetano e na lista poderiam figurar José Dias Ferreira, António José de Almeida e outros, ao passo que na Literatura jamais poderão ser omitidos Brás Garcia Mascarenhas, Visconde de Sanches de Frias, José Simões Dias, António Francisco Barata, Alberto da Veiga Simões e o historiador António Gonçalves Matoso (e seu filho José Matoso), merecendo ser ainda lembrados, entre os contemporâneos, a-par dos pintores Guilherme Filipe e Augusto Nunes Pereira, os escritores António de Vasconcelos e José V. de Pina Martins, ao lado do poeta Vasco de Campos. E o poeta D. Luís da Silveira com mais de duas dezenas de poesias seleccionadas por Garcia de Resende para o Cancioneiro Geral?
Como figura ímpar da Religião é mencionado D. Eurico Dias Nogueira, Arcebispo Eméritode Braga e escritor de grandes recursos; de resto, mais uma dezena de Bispos “da terra”poderiam ser apontados em Arganil (já biografamos 6 deles), de Seia e de outros municípios da nossa Serra, bem como alguns intelectuais, cientistas e artistas que nasceram ou estiveram ligados à região (o Dicionário de Autores da Beira-Serra inclui perto de 300 verbetes!)
Por tudo isto se deduz que será necessário consultar, futuramente, A Serra e a Cidade, de Maria Beatriz Rocha-Trindade, que nos oferece uma ampla visão do Movimento Regionalista nos Municípios de Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra.

PERSPECTIVA HISTÓRICA E SOCIAL DA LOUSÃ

Com a participação do Dr. Fernando dos Santos Carvalho, Presidente do Município da Lousã, dos escritores Carlos Carranca, João Alves das Neves e de outros autores da região, será lançada a edição Uma perspectiva histórica, social e cultural da revista cultural da Beira-Serra Arganilia, na Biblioteca Municipal lousanense, no próximo dia 15 de Novembro, à tarde.

Trata-se do volume nº. 22 de Arganilia, que trás 19 estudos sobre alguns dos
temas lousanenses do passado e do presente, merecendo relevar-se a observação do Dr. Fernando Carvalho de que o concelho a que preside cresceu 19% na década de 90, facto incomum na maioria dos nossos municípios. E o curioso é que, segundo a Direcção Geral das Autarquias Locais, desde 2001 , o aumento de residentes foi de 2.500 habitantes (16%). E do depoimento do Presidente ressalta-se ainda que os Lousanenses são “cada vez mais uma sociedade multicultural” porquanto entre os residentes mais de 2.600 indivíduos provêm de outras nacionalidades. Enfim, este progresso social poderá explicar-se pelas actuais facilidades de acesso “que melhorarão significativamente em finais de 2009.”

O escritor e professor universitário Carlos Carranca publica nesta edição de
Arganilia o poema “Lousã em Menino”, agora revisto e aumentado. Do ponto de vista histórico o volume nº. 22 de Arganilia, insere 3 trabalhos: ‘’O Castelo da Lousã”, de Jorge Padilha (com desenho do pintor Monsenhor A. Nunes Pereira); “A Lousã e uma visita à Serra” (de AntónioLopes Machado) e “Algumas notas sobre a Imprensa da Lousã” (de Pedro Júlio Malta), além de vários poemas inéditos de António Vilar (por José Ricardo), “A Lousã de Jorge Babo” (por Reis Baptista) e “Uns certos Jogos Florais” (por José Ricardo de Almeida). Entretanto, a obra do jornalista e escritor João Luso (pseudônimo que Armando Erse de Figueiredo tornou conhecido na Imprensa Brasileira) é analisada resumidamente por João Alves das Neves, que juntou uma belíssima crônica do grande jornalista luso-brasileiro, “Volta a casa”.

O capítulo das Artes é representado muito bem por A. Nunes Pereira e Nuno Malta, e no ensaio anota-se o estudo “Memória do Comendador Montenegro e da Colônia Nova Lousã”, da autoria da historiadora brasileira Sónia Maria de Freitas.

O volume inclui também três Memórias: “Para um retrato do Dr. Manuel Manuel Mexia” (por João Bigotte Chorão), “Dr. José Maria Cardoso – recordações de infância” (pela escritora Regina Anacleto, Professora da Universidade de Coimbra) e “Dr. José Maria Cardoso (1885-1959), filho de Fajão, Pampilhosa da Serra, e filho adoptivo da Lousã” (pelo ensaísta e poeta Teodoro A. Mendes-Tamen). É indispensável mencionar igualmente o artigo “A Lousã dos futebóis” (por J.R.A.) e um histórico da importante empresa que há muitos anos produz o “Licor Beirão” que os portugueses muito apreciam e é exportado para mais de 20 países – um “record” dificilmente ultrapassado! O volume trás ainda a Revista da Imprensa com o artigo “A Arganilia veio para ficar” (por Aníbal Pacheco), bem como “Um novo livro de Correia das Neves sobre Oliveira do Hospital” (de António Lopes Machado, editor e vice-director de Arganilia.
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Os dirigentes da revista Arganilia já iniciaram a preparação de mais um volume, “Vida e Obra de Regina Anacleto” (título provisório), com a colaboração de diversos escritores e professores universitários, além de uma selecção de textos da grande investigadora, ensaísta e escritora arganilense.