terça-feira, 31 de março de 2009

D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, O NOVO SANTO DE PORTUGAL

Que aureola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

A pergunta de Fernando Pessoa é simultaneamente a resposta do Poeta na versão camoniana da Mensagem, um dos livros portugueses mais válidos da Literatura Portuguesa do século XX.

Cremos que a citação é oportuna no momento em que o Vaticano acaba de anunciar a canonização de D. Nuno Álvares Pereira como Santo – mais um entre os de Portugal, onde sobressai o Santo António de Lisboa, que os italianos pretendem ser de Pádua, o que também está certo, considerando que a vida espiritual só começa quando se deixa a vida terrena.

Nascido no dia 24 de Junho de 1360 (em Sernache do Bonjardim, Sertã – dizem alguns historiadores), D. Nuno morreu em Lisboa, no Convento do Carmo, que ele mandou fazer e foi em boa parte destruído pelo terramoto de 1755 – e até hoje não restaurado! ). Atribuem-lhe muitos milagres mas os 3 primeiros pertencem à História de Portugal, quando, com um reduzido número de lusitanos, comandou e venceu o enorme exército castelhano nas batalhas de Atoleiros (08-04-1384), Aljubarrota (14-08-1385) e Valverde (2-10-1385).

Ao colocar-se ao lado do Mestre de Aviz, D. Nuno foi não só nacionalista mas também patriota destemido. Por isso, D. João I o nomeou Condestável do Reino, título que o Povo enobreceu ao vitória-lo como "Santo Condestável", após a carreira brilhante e tão poderosa que ele julgou consolidar a Independência de Portugal e se retirou das lides militares, vestindo os trajes humildes de Frei Nuno Álvares Pereira, apesar da sua ascendência aristocrática.

São inúmeros e bem documentados os estudos sobre o grande sedimentador da Independência Portuguesa, relevando-se a Crônica do Condestável de Portugal (por Fernão Lopes) e A Vida de Nun’Álvares (de Oliveira Martins), pode salientar-se que a ação de D. Nuno Álvares Pereira, se foi decisiva para o bom fim da crise política dos anos 1383-1385, após a morte do Rei D. Fernando (22-10-1383) e a ascensão ao trono de Leonor Teles (aquela que traiu o marido legítimo para se tornar Rainha e, depois traiu Portugal, quando tentou entregar o poder ao genro (o rei castelhano D. João I) isto é, ao maior inimigo da soberania portuguesa. Foi então que se levantaram contra a traição D. Nuno e outros fiéis aquele que viria a ser o Rei dos portugueses, D. João I.

Derrotadas as ambições imperialistas do rei de Castela, D. Nuno consagrou-se definitivamente à acção religiosa e dos seus triunfos militares ficou para sempre o belíssimo Mosteiro da Batalha, que é ainda hoje uma das mais belas jóias da Arquitetura de Portugal de todos tempos. Entretanto, D. Nuno Álvares Pereira tornou-se frade carmelita em 15-8-1423, após entregar os seus bens à família e aos pobres, salientando um historiador que, dedicando-se ao "serviço absorvente de Cristo", prodigalizou tão somente "actos de piedade e de benemerência", conforme testemunha o último título que recebeu do povo lisboeta – o de Santo Condestável.

Passaram os anos e os séculos – os portugueses queriam –no santificado pelo que fez pela Nação, com particular destaque pelo auxílio aos desafortunados. Começaram a rezar ao "Santo" que ele ainda não era, conforme as leis da Igreja, mas ele já estava santificado por milhares de amigos que pediram ao Papa Urbano VIII (em 1651) que Frei Nuno fosse beatificado, pedido renovado ao Papa Clemente X em 1674, mas o culto ao Santo Condestável só foi proposto pela Sagrada Congregação dos Ritos pelo Papa Bento XV: e em 23-1-1918 o Vaticano reconheceu Beato da Igreja Católica Apostólica Romana e pôde, enfim, ascender aos altares.

Seguiu-se o processo de santificação, que é sempre demorado e somente foi reaberto em 13-7-2003 – só faltando reunir alguns documentos, que foram remetidos ao Vaticano em 2004 pelo Vice-Postulador , Padre Francisco e encaminhados pelo Prefeito da Congregação da Causa de Todos os Santos – o Cardeal português D. José Saraiva Martins.

Finalmente, a santificação virá com o Sumo Pontífice Bento XVI neste ano de graça de 2009! E agora urge repor inteiro o poema Nun’Alvares Pereira. De Fernando Pessoa:

"Que aureola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
Excalibur, a ungida,
Que o Rei Arthur te deu.
Sperança consummada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a entrada se ver! " (**)

(**) O Poeta Fernando Pessoa sugeria que fosse mantida a ortografia original dos poemas de Mensagem (1ª. edição, Lisboa, 1934). Por isso, leia-se: "S. Portugal" = "São Portugal".

segunda-feira, 30 de março de 2009

Círculo Fernando Pessoa cria espaço para discussão da reforma ortográfica na Internet

Revista Lusofonia é a nova ferramenta para debates sobre a Língua Portuguesa.

Com o objetivo de divulgar os problemas dos países de Língua Portuguesa, foi criado em São Paulo o Círculo Fernando Pessoa, que reúne alguns dos dirigentes do Centro de Estudos Americanos Fernando Pessoa,fundado há 21 anos em São Paulo. Através do blog Revista Lusofonia www.revistalusofonia.wordpress.com/, temas como História, Artes, Economia e Política são discutidos e comentados por especialistas de diversas áreas.

O blog tem como objetivo aproximar os 8 países da língua portuguesa em um momento em que a reforma ortográfica ainda causa uma certa confusão e muitas dúvidas. A página exibe posts que permitem o esclarecimento das novas regras, facilitando o diálogo e o intercâmbio de informações entre os quase 250 milhões de habitantes que têm o português como idioma oficial. Portugueses e Brasileiros, Caboverdianos, Guineenses de Bissau ou Sãotomenses, Angolanos, Moçambicanos e Timorenses poderão se conectar através da Internet e discutir as dúvidas que surgem neste processo de transição das regras ortográficas.

Todo o conteúdo publicado no blog é livre e poderá ser publicado em jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão ou outros veículos de comunicação social, que tenham interesse pelo assunto, desde que os créditos sejam dados aos autores dos posts, responsáveis por todas as informações.
Neste tempo de mudanças, a Revista Lusofonia - o blog dos Países de Língua Portuguesa - é mais uma ferramenta de discussão para aqueles que têm muitas dúvidas sobre a Reforma Ortográfica. O blog é idealizado por profissionais sérios de diversas áreas e que têm em comum o amor pela Língua Portuguesa

Mais informações:
Fabiola Nese
Relações Públicas
fabiola@fesesp.org.br

quarta-feira, 25 de março de 2009

História de Coja - O JORNAL TAMBÉM FAZ HISTÓRIA


O resumo dos acontecimentos cojenses, entre os anos de 1901 e 1950, foi resumido por Nuno Mata no livro Memória da Freguesia de Coja na 1ª. Página de A Comarca de Arganil.

Partindo do princípio de que as notícias, as entrevistas e os artigos são habitualmente destacados na capa de qualquer publicação, admitimos que nessa abertura está o essencial – e assim encontramos a referência ao que de mais significativo ocorreu na primeira metade do século XX, a partir da súmula que nos faz acompanhar a carreira profissional de certas figuras de relevo e, ao mesmo tempo, as informações sobre as obras públicas, o ensino, a agricultura, as mortes e os desastres, etc.

Assinala-se que a primeira noticia relacionada com a freguesia vem na edição nº. 2 e cita um artigo do dr. Albino de Figueiredo (do Pisão de Coja) abordando o decantado caminho de ferro de Arganil que parou em Serpins, até hoje, vindo a seguir um artigo de A. V. acerca da caça e depois outro, “Velharias”, da autoria de Mem Soeiro, em torno das considerações Cunha Leal sobre a História de Coja. E por ai adiante.

Como era de esperar, a maioria das informações relaciona-se com o dia a dia cojense, mas há muitas outras mencionando o Pisão, a Esculca e as terras circunvizinhas, por vezes sem grande relevo, nem por isso deixam de ser curiosas pois tratam de pessoas que ainda conhecemos ou das quais ouvimos falar e de acontecimentos do passado que têm relação com a atualidade.

O anos vão passando e pouco mais se diz que ultrapasse a rotina, mas, após as mil e uma notas de licenças para obras particulares, eleições, nomeação de professores e “partidores de água” (também designados por almotacéis), brigas judiciais, subsídios para isto e aquilo, avisos do recenseamento militar. indicação de juízes de paz e partidos médicos. Entretanto, na edição de 5 de Dezembro de 1907 é noticiada a posse do Conselheiro Neves e Sousa na Reitoria da Universidade de Coimbra, onde lecionaram (até os anos 30 do século XX) mais de quatro dezenas de professores ligados à Beira-Serra.

Para o mesmo alto cargo foi convidado o Prof. Manuel José Fernandes Costa (que era professor da Escola de Farmácia de Coimbra , conforme noticia divulgada em 6 de Dezembro de 1917), por motivo de doença do Reitor. Porém, o indicado não aceitou o convite ( nº. 970 de A Comarca, de 20 de Novembro de 1919). Não obstante, refere-se a do Conselheiro Albino de Figueiredo como Vogal do Conselho Superior do Supremo Tribunal de Justiça. Ainda o conhecemos, já bastante idoso, porque passava pelo menos parte das férias no Pisão de Coja, onde era conhecido por “Conselheiro Novo”, lembrando que seu Pai, que tinha o mesmo nome, foi Conselheiro do Rei e que político destacado da Monarquia, tendo dirigido em Lisboa o jornal Portugal Velho – a ele se deve a 2ª. edição, em 1846., do Viriato Trágico, de Brás Garcia Mascarenhas – o leitor interessado poderá encontrar documentação mais ampla na revista Arganilia (nºs. 9, de 1999, e 18, de 2004).

E se é imprescindível ressaltar, nas informações colhidas por Nuno Mata, enumeram-se alguns dos mais importantes melhoramentos públicos: em 6 de Setembro de 1911 anota-se que foram autorizados os estudos para a construção da estrada de Coja à Moura, obra essencial para a ligação com a Serra das populações arganilense e pampilhosense. Mas o caso só voltou a ser noticiado quando a Direção de Obras Públicas de Coimbra pediu à Câmara Municipal que apontasse quais os terrenos “que teriam sido expropriados , nomeadamente os da antiga casa da Câmara Municipal de Coja,” para a construção da referida estrada (nº. 718 de A Comarca de Arganil, 7 de Janeiro de 1915).

Sob o título de “Quedas de água”, fala-se na construção da barragem no Rio Alva, com incidências e m Coja (nº. 1091, 13-4-1922). À distancia dos anos, há noticias que hoje nos parecem pitorescas, como foi o caso da oriunda da Esculca (em 1923 15 de Agosto), sob o título “Aeroplanos: “dá conta da passagem de um aeroplano na Esculca, com destino a Gouveia”. O nº. 1288 (125-2-1926) traz a alvissareira informação de que a Câmara arganilense atribuira verbas arranjos na estrada da Benfeita”, que só bastantes anos mais tarde seria inaugurada. E, no meio de muitas outras notícias diferentes, a sede do conselho deverá ter ficado perturbada com o projeto da certa a reforma administrativa, que pode ser resumida em poucas linhas - as vilas de Coja e Avô aspiram tornar-se sedes de municípios, condição que as duas terras perderam no século XIX.

Quanto ao mais, a vida corria serenamente na Beira-Serra – estava chegando a toda a parte a eletricidade, o telefone, os serviços do correio tinham melhorado e surgiam os primeiros sinais das ligas e comissões de melhoramentos que viriam impulsionar o abastecimento de água, o alcatroamento das estradas, a construção de escolas e as entidades de apoio social e hospitalar, a exemplo da Sociedade de Assistência Cojense e da Casa de Caridade de Folques – exemplos que se alargariam a quase toda a região, embora faltasse completar a assistência no mais amplo sentido às vilas, aldeias e casais da Beira-Serra. Algo progrediu, mas a região ainda está à espera de um progresso socioeconômico que constantemente é prometido mas sempre adiado. É verdade que foi assim na era ditatorial, mas no tempo democrático, numerosos problemas aguardam a solução.

A enunciação feita por Nuno Mata é da maior utilidade para os historiadores do futuro, porque os de agora são bem poucos. Seja como for, esta Memória da Freguesia de Coja na 1ª. Página de A Comarca de Arganil (1901-1950) abre pistas não apenas aos pesquisadores do movimento regionalista, no respeitante à vida cultural da Beira-Serra. E é o que destacaremos mais tarde.

segunda-feira, 23 de março de 2009

QUEM MANDOU MATAR O GENERAL E O PRESIDENTE?

Até hoje, ninguém explicou convincentemente os motivos da morte do general Batiste Tagme Waíé, que foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, e nem tão pouco do Presidente da República da ex-colónia portuguesa, João Bernardo "Nino" Vieira.

O primeiro foi vítima da explosão de uma bomba e, poucas horas depois, o segundo foi assassinado, poucas horas depois, com outra bomba e tiros de metralhadoradora. Insinuam certos "observadores" que o general Waié seria adversário do presidente "Nino" Vieira, morto por vingança dos apoiantes de Waié, mas não há provas nenhumas dos dois crimes. E o mais provável é que ninguém venha esclarecer o que realmente se passou.

Os dois assassinatos não foram os primeiros e receia-se que não sejam os últimos - o que jamais deveria acontecer tornou-se cada vez mais freqüente, após c excessos cometidos pelos colonialistas do passado. E dizê-lo não é reacionarismo direitista, porque o sovietismo moscovita e de Pequim ou de Havana não foi mais longe porque não teve ao seu dispor dinheiro nem exército.


Os assassinatos de Waié e de "Nino" Vieira não têm explicação e muito menos justificação, conforme pretendem os independentistas africanos e europeus. E a realidade é que houve somente a troca de pessoas. A maioria dos habitantes das 5 ex-colónias portuguesas da África ficou tão dependente como dantes, senão pior, conforme demonstra o exemplo da Guiné-Bissau, cujos chefes atuais são incompetentes e incompatíveis com a Democracia, que só pode ser boa se for inquestionavelmente democrática.

O antigo guerrilheiro "Nino" Vieira chegou ao poder em 1980, em virtude de um golpe de estado e desencadeou uma guerra civil, perdeu-a e fugiu para Portugal, em 1999. Voltou no ano seguinte e ganhou a eleição presidencial de 2005. E sobre ele,comentou Rui Nogueira, n’ O Estado de S. Paulo, que Nino "leva para o túmulo a suspeita de que foi um dos ativos conspiradores que assassinaram (Amílcar) Cabral em Janeiro de 1973, num ataque perpetrado em Conacri" (...)


A Guiné-Bissau é uma das nações mais pobres da África. E os seus 1.700.000 habitantes pertencem às etnias balanta (30%), fulani (30%), mandinga (13%), papel (7%) e mais 16% distribuídos por outras tribos. Quanto às religiões, a divisão vai dos 44,8% de crenças tradicionais aos 40,7% de islamitas e 13,2% de cristãos. Talvez estas percentagens não expliquem tudo, mas revelam a diversidade do país, periodicamente submetido às marés, que tornam improdutivo 1/5do território. O PIB era de US$304 milhões em 2006, totalizando US$75 milhões as exportações e de US$110 milhões as importações.

A situação dos guineenses agrava-se ainda mais grave com ao alerta da ONU, segundo a qual o seu país se tornou, em 2008, um dos maiores centros africanos de distribuição de cocaína da América para a Europa. É possível perguntar se este novo comércio terá alguma relação com os crimes políticos na Guiné-Bissau, mas é evidente que ninguém responderá...

sexta-feira, 20 de março de 2009

POR OU CONTRA O ABORTO

As primeiras declarações de D. José Cardoso Sobrinho, Bispo de Olinda e Recife, sobre o caso da menina pernambucana de 9 anos engravidada pelo sinistro padrasto que as autoridades civis não mandaram prender, até agora. Fonte da Imagem: http://jovempan.uol.com.br
Até o Presidente Lula da Silva, ao mesmo tempo que se proclamou católico, manifestou o seu desacordo com o Prelado, assim como o ministro da Saúde, dr. Temporão, conhecido não só pelo seu esquerdismo mas também pelos ataques à Igreja Católica, tendo cometido a indelicadeza de protestar contra o Papa Bento XVI, quando o Sumo Pontífice visitou há meses o Brasil.

As palavras do Chefe de Estado do Brasil pretenderam certamente assinalar o perigo que corria a menina grávida, mas entre os outros "protestantes" muitos deles nada têm a ver com o Catolicismo. Aliás, esses contestatários manifestam-se, sempre contra o Vaticano e os seus representantes no mundo, como fizeram os defensores de outros cultos religiosos, ao lado de numerosos ateus e militantes dos movimentos anti-católicos – como se estes pudessem interferir, por exemplo, nas decisões dos partidos políticos.

Há uma delimitação que convém definir - o poder civil tem de processar e eventualmente punir quem transgride as leis de qualquer país. Por isso mesmo, à Igreja Católica Apostólica Romana compete estabelecer tudo o que respeita aos que seguem a sua Religião, sem ter de pedir conselhos aos governos, ministros e militantes partidários.

Ora, D. José Cardoso Sobrinho, atual Bispo de Olinda e Recife (sucessor de D. Mathias de Figueiredo e Mello, que nasceu em Arganil há mais de três séculos e que o Povo Pernambucano cognominou de "Bispo Santo"), estava no pleno exercício da sua missão religiosa quando declarou à revista Veja, de São Paulo: "Em primeiro lugar, nós temos de colocar essa questão no âmbito religioso. Acreditamos em Deus? É sim ou não." E depois foi direto à questão: "Antes de tudo, quero deixar bem claro que não fui eu que excomunguei os médicos que praticaram o aborto e a mãe da menina. Isso é falso. Eu não posso excomungar ninguém. Eu simplesmente mencionei o cánone 1398, do Código de Direito Canónico, que está nas livrarias para qualquer um ler. Por essa lei, o aborto está incorrendo nessa penalidade que se chama ‘latae sententiae’, um termo técnico que significa automática. Então, não foi D. José Cardoso Sobrinho que os excomungou. Eu simplesmente disse a todos: ‘Tomem consciência disto’. Qualquer pessoa no mundo inteiro que pratique o aborto está incorrendo nessa finalidade – mesmo que ninguém fale nada." (...)

O agente da lei, seja ela qual for, tem de a cumprir – e assim fez o Bispo de Olinda e Recife. Só não entende quem não quiser.

quinta-feira, 19 de março de 2009

ÂNGELO

A Morte não estava anunciada – ele não a esperava, nem tão pouco os seus familiares e amigos. Veio inesperadamente, sem avisar ninguém, silenciosa e traiçoeira, com tanta violência,porém, que fez disparar o coração – e te fulminou!

O ataque chegou disfarçadamente, inesperado e rápido: será que ele se emocionou com o jogo do seu Benfica? Teve aviso ou ameaça? O Ângelo não se precipitava com possíveis acidentes, sempre atento na estrada, pressentindo o que os outros, distraídos, não tinham observado - e agia a tempo, como daquela vez em que, já de noite, nos aproximávamos de Lisboa. Ele desviou-se de um carro que o ultrapassou, perigosa e ilegalmente - e só depois tivemos a sensação de que escapámos do choque por obra e graça da manobra oportuna e eficiente do Ângelo.

Foi nosso companheiro de muitas horas, durante as férias dos últimos anos, em Portugal. Conversávamos até de madrugada. Íamos e vínhamos por Cascais e arredores com a Idalina e o Carlos Carranca, que frequentemente nos convocava para espectáculos teatrais - ou para um recital de poesia ou para o lançamento de livros ou para um concerto de fados de Coimbra ou para um almoço ou jantar... E, se não havia canções, escutávamos o Carranca, o Luís Góes e outros companheiros.

Nas tardes de calor, o “museu” familiar, onde havia de tudo um pouco – desde os poemas e retratos de Miguel Torga às ferraduras e outros acessórios de bois, cavalos e mulas. E nada era melhor que o fresquinho do salão – e o refrigerante ou o uisquinho. Contudo, o mais agradável era o diálogo fácil e fraterno, comentando mil e uma coisas - sem falar (mal) dos outros!

E agora, Ângelo? A notícia da viagem sem retorno chegou-nos por telefone. Ligamos e atendeu-nos o Victor , mas só conseguimos dizer: “Pêsames”. O silêncio é de ouro... Ficaste perto do Zé e do Antonino, que foram antes fazer companhia aos primos José Ventura (que contava histórias à minha avó Conceição de Folques) e Matilde. Definitivamente, estás em Arganil, que tanto amavas e defendeste até no futebol, partilhando essa devoção por Cascais. Ao longe, a Beira moçambicana... Perto, a família e os amigos, mais o Benfica do coração que te atraiçoou.

Lamento que não tenhas vindo ao Brasil para conhecer esta cidade grande demais, que nos assusta e enternece, porém de braços abertos para os amigos. Que pena! E o pior é que não voltarás a Cascais e só poderei revisitar-te, mudo e triste, em Arganil.

terça-feira, 17 de março de 2009

PSEUDÓNIMOS DOS AUTORES DA BEIRA-SERRA

Não fugiram à regra os escritores, artistas e intelectuais da Beira-Serra, tendo sido numerosos aqueles que usaram pseudónimos ou, pelo menos, iniciais – pois, se há homónímos, muitas mais são as iniciais iguais dos vários autores.

É claro que deve ser considerado pseudónimo o nome suposto ou falso que assina um artigo, livro ou qualquer obra de arte. O recurso às iniciais também é frequente. Mas não há que confundir pseudónimo com heterónimo, porque este último é uma criação artística – é, de certo modo, outra personalidade, ao passo que o pseudónimo não é mais do que um disfarce ou denominação de quem não quer divulgar o próprio nome.

Na pesquisa que iniciámos há muitos anos sobre os autores da Beira-Serra, descobrimos numerosos pseudónimos e na consulta ao Dicionário de Pseudónimos e Iniciais de Escritores Portugueses, publicado por Adriano da Guerra Andrade encontrámos algumas dezenas de escritores da nossa região, admitindo que em muitos casos foi uma grande surpresa.

Abrimos a série com uma figura ilustre - o Presidente António José de Almeida, que nasceu em Vale da Vinha (Penacova) e que escreveu diversos livros e muitos artigos, entre os quais Quarenta anos de vida literária e política, utilizando os pseudónimos de “António d´”, “Diógenes”, “João Vaz” e, naturalmente, o seu verdadeiro nome. Trata-se de um livro hoje mal conhecido sobre gente e episódios da nossa 1ª. República, sendo por isso “um documento importante dessa época agitada e obscura da vida social e política portuguesa” (in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, 2º. vol.), bastando lembrar-se que a obra foi prefaciada por Caetano Gonçalves, Joaquim de Carvalho e Hernâni Cidade).

Antes do político, a ordem alfabética sugere-nos um desconhecido “A . N.”, que é o nosso conhecido diplomata e notável escritor Albano Nogueira – um escritor infelizmente “bissexto”, porque publicou muito menos do que seria desejável. E curiosamente assinalamos que houve 1 “Argos” e 5 “Argos” mas cremos que sem nenhuma relação com os arganilenses.

sexta-feira, 13 de março de 2009

ENQUANTO OS POLÍTICOS DISCUTEM, 200 ASSOCIAÇÕES PRESTIGIAM PORTUGAL NO BRASIL


A primeira grande emigração portuguesa foi a do Brasil, conforme testemunham cerca de 200 entidades reunidas sob a bandeira da Federação das Associações Portuguesas Luso-Brasileiras, fundada em 14 de Agosto de 1931. E talvez sejam mais, pois admitimos a hipótese de algumas não se terem ainda federado.

É um cenário único no mundo do nosso idioma espalhado pelos cinco Continentes, pois se trata de agremiações bem estruturadas, em boa parte, com edifícios próprios, há longa data , como é o caso do Real Gabinete Português de Leitura, cujos alicerces vêm desde 14 de Maio de 1837 ou da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência (17/05/1840); da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de Socorros D. Pedro V (31/05/1863); do Liceu Literário Português (10/09/1868; do R.S. Club Ginástico Português (31/10/1868); da Associação Beneficente Luso-Brasileira (10/06/1880) e do Club de Regatas Vasco da Gama (31/08/1898).

Vieram as 7 associações após o pioneirismo da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência, que foi criada há 390 anos, no dia 20 de Março de 1619! E apareceram, a seguir, a Venerável e Arquiepiscopal Ordem Nossa Senhora do Monte e do Carmo (19/07/1648) e a Venerável Irmandade do SS. Sacramento Santo António dos Pobres e Nossa Senhora dos Prazeres (15/08/1807). São 10 instituições religiosas, é certo, mas às quais os portugueses continuam ligados por devoção e patriotismo.

Todas são do Rio de Janeiro e a sua fundação é obra da Diáspora Lusíada, ontem e hoje, iniciada desde a Colonização, da qual os Portugueses só podem orgulhar-se, pois o espírito e a realização ficaram para sempre ligados à Civilização Cristã. E a esta dezena de instituições verdadeiramente humanitárias devemos acrescentar outras 31 na antiga capital brasileira, abertas para a assistência médico-hospitalar e social, cultural ou desportiva, como é o caso extraordinário do Real Gabinete Português de Leitura, que, para lá das exposições históricas e artísticas, cursos e conferências, abre a sua magnífica Biblioteca – com centenas de milhares de livros - ao povo simples e aos investigadores e ensaístas, portugueses, brasileiros e de outras origens. E em várias cidades do mesmo Estado funcionam mais 12 associações luso-brasileiras, entre as quais destacamos as duas já centenárias – a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos, fundada em 10 de Janeiro de 1852 na cidade homônima, e a Real Sociedade Portuguesa de Petrópolis, que data de 24 de Setembro de 1875.

Se atendermos ao número de entidades, vem a seguir o Estado de São Paulo com 38 agremiações, a mais antiga das quais comemorará 150 anos em 2 de Outubro de 2009 - é a Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência – que dispõe actualmente do maior hospital particular do Brasil, com perto de 2.000 leitos e uma equipe de cerca de 1.500 médicos e 50 salas de cirurgia (na realidade, atende em 6 edificios, nos dois hospitais interligados – o de São Joaquim e o de São José. E, entre as mais antigas associações luso-paulistas, apontam-se igualmente a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campinas (20-07-1873), o Real Centro Português de Santos (03/03-11/1895) e, ainda nesta cidade, assinala-se a Sociedade Portuguesa de Beneficência (21/08/1859). Os portugueses fundaram também na cidade de São Paulo a Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas (24/06/189) e a Sociedade Portuguesa Beneficente Vasco da Gama (20/05/1898), que construiu e mantém um hospital (mencionamos apenas as centenárias).

É necessário enumerar outras prestimosas associações luso-brasileiras: no Estado de Alagoas há 2 e no de Amazonas outras 2 (incluindo a Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficente do Amazonas, fundada em 31/10/1873). As mais antigas do Estado da Bahia são o Gabinete Português de Leitura (02/03/1863) e a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência 16 de Setembro (01/01/1857). No Estado do Ceará refere-se a Sociedade Beneficente Portuguesa (02/02/1872) e no Maranhão a Sociedade Humanitária 1º. de Dezembro (1/12/1862). Na cidade de Corumbá (Mato Grosso) actua a Sociedade Portuguesa de Beneficência 1º. de Dezembro (21-02/1892) e em Minas Gerais existe a Sociedade Portuguesa (01/12/1891). No Pará, indicam-se a Associação Vasco da Gama (20/05/1898), a Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente (08/10/1854), o Grêmio Literário e Recreativo Português (29/09/1867). Em Curitiba, capital do Paraná, salientam-se a Sociedade Portuguesa Beneficente 1º. Dezembro (10/11/1878) e na capital pernambucana o Real Hospital Português de Beneficência (16/09/1850), ao passo que no Estado do Rio Grande do Sul se relevam as actividades da Sociedade Portuguesa de Beneficência (Bagé, 27/11/1870), a Sociedade Portuguesa de Beneficência (Pelotas, 16/09/1857) e a Sociedade Portuguesa de Beneficência (Porto Alegre, 26/02/1854) e, na cidade de Rio Grande, a Sociedade Portuguesa de Beneficência, instituída em 03/07/1859).

Na impossibilidade de enumerar, embora resumidamente, as associações luso-brasileiras que surgiram já no século XX – e várias delas promovem manifestações muito válidas, não podemos omitir que, a par das enunciadas, outras actuam nos Estados de Alagoas, Rio Grande do Norte e no Distrito Federal (Brasília). Podemos concluir acentuando que as Beneficências Portuguesas e outras entidades médicas, hospitalares, assistenciais ou recreativas e culturais prosseguem, de certo modo, a missão que foi inicialmente cumprida pelas Santas Casas de Misericórdia, fundadas pelos emigrados lusíadas no Brasil.

E, ainda no capítulo associativo, há que revelar os esforços colectivos dos 15 Conselhos Luso-Brasileiros dos Estados de Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal (Brasília), Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná (2), Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. A fonte desta lista foi a Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras. (Em tempo: um dos Conselhos paranaenses é da Comunidade Portuguesa e o outro da Comunidade Luso-Brasileira no Estado do Paraná, adiantando-se que no de São Paulo permanecem idênticas denominações, em virtude de haver a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas – de Lisboa – criado com tal designação os Conselhos "Portugueses", pelo que a maioria das antigas entidades adoptou o título de Comunidades Luso-Brasileiras... protesto silencioso dos portugueses que vivem no Brasil). E um acréscimo final a estas anotações: dos cerca de 20 Elos Clubes fundados no Brasil cremos que nenhum deles se filiou à Federação das Associações. Por conseqüência, o movimento global luso-brasileiro não andará longe das 170 a 200 entidades.

Nos últimos anos, têm sido escassos os estudos sobre a Diáspora Portuguesa no Brasil e é pena que não haja estímulos para historiadores, sociólogos, ficcionistas e poetas ou jornalistas que possam continuar (a seu modo) as obras de João Lúcio de Azevedo, Jaime Cortesão, Fidelino de Figueiredo, Ferreira de Castro, Miguel Torga e de outros autores que tanto prestigiaram a Cultura Portuguesa no Brasil. Por isso, julgamos oportuna a citação do notável estudo de Maria Beatriz Rocha-Trindade (da Universidade Aberta de Lisboa), Portugal-Brasil (Migrações e Migrantes – 1850-1930 (Edições Inapa, Lisboa, 2000).

Que ninguém pergunte se a obra valeu a pena!

quarta-feira, 11 de março de 2009

GASTRONOMIA DA BEIRA-SERRA - Parte II

Por toda a parte se cozinham os Torresmos, mas só achamos indicações em Pardeeiros (em banha e carne). Aliás, no amplo capítulo das carnes é preciso arrolar igualmente os diversos Empadões, os Anhos (Cordeiros) e deram-nos até uma receita de Texugo! (que é raro apanhar-se, diga-se de passagem).

Dos Cozidos à Portuguesa, tão populares em toda a área serrana, só vimos publicadas as ementas de Fajão e Pardeeiros. E dos inúmeros gêneros de Chouriços ou Enchidos, os de Fajão e Benfeita, enquanto que no domínio das Aves conhecemos somente o Pato de Mouronho (assado no sal), o que está muito abaixo da realidade, porque não há vila, aldeia ou casal que não cozinhe frango, galinha ou galo "à maneira". E a citação pode ser também aplicada ao Coelho – não descobrimos na pesquisa que fizemos uma única referência ao prato que é bastante popular.

No que se refere aos Peixes, há o mesmo vazio, nomeadamente no concernente ao bacalhau (é certo que fecharam os antigos lagares e acabaram as tradicionais tibornadas (só 2 menções, uma das quais em Arganil). Da Couvada (com bacaçhau), 2 descrições em Fajão e Pampilhosa, ao passo que da Lampreia não mais de 3 menções, o que é certamente inferior ao que se fala em Penacova – e por aí adiante!. E das Trutas – apenas 1 (de escabeche) em Fajão, Covanca e Vidual de Cima. Sublinhamos que da bibliografia que nos foi acessível, não podemos omitir as múltiplas Saladas e muito menos os pratos de Tortulhos ou Cogumelos (de Pardeeiros).

E o que falar das inesquecíveis sobremesas serranas? Abre-se a lista apetitosa com o mundialmente clássico Arroz Doce (contámosnão mais do que 5 receitas, incluindo 1 recentemente publicada no caderno "Paladar" do diário O Estado de S. Paulo), mais 2 de Tapioca e 4 de Tijelada. Lembrem-se por acréscimo as 5 modos de fazer Filhós, as 2 de Rabanadas e Fatias Douradas, 3 de Pão de Ló, 2 de Coscoréis e mais 8 de Doces de Frutas regionais (quando se descobrem as pêras, maçãs, uvas, melancias, amoras e os melões, pêssegos, medronhos, etc., etc.?). Em boas horas, continuam a cozinhar-se os inimitáveis Bolos Doces:, desde os Bolinhos de Pinhões de Arganil (3 receitas) aos chamados Pastéis do Mosteiro de Lorvão (4),sem esquecer os Farta-rapazes de Folques, as Tortas de geropiga de Oleiros e a de Tondela, os Nevados de Penacova, o Bolo de Mel de Fajão (a notícia inclui quase sempre Covancas e Vidual de Cima), o Bolo do Porto da Balsa, o Folar de Páscoa do Senhor da Serra e o Bolo de Páscoa de Vila Nova do Ceira (deixamos para mais tarde a citação aos 18 Bolos Salgados (como são as Bôlas de Arganil e os Bolos de Castanhas, os Bolinhos de Bacalhau - e quantos mais!). Relativamente à Doçaria da Beira-Serra, lembramos que é infindável – já catalogámos mais de 50 receitas, mas devem estar faltando outras 50 ou mais!.

Finalmente, os Queijos: juntamos apenas os que foram publicados nas obras ao nosso alcance (e há muitos outros) - os Queijos Frescos de Cabra e o Curtido (da Pampilhosa – e não só), ao lado do queijo de Vinho e do inimitável amanteigado da banda de cá da Serra da Estrela – sem desmerecer o requeijão da Quinta do Mosteiro folquense! Mas quantos queijos e requeijões da Serra ficaram por enumerar, pois não estão impressos em livros nem tão pouco nos jornais e revistas que pudemos consultar?

Por tudo isto e muito mais, poderá concluir-se (provisoriamente) que é extensa e saborosíssima a Gastronomia da Beira-Serra, com mais de 200 receitas de sopas e caldos, peixes e carnes, doces e queijos. (E quem poderá falar dos vinhos?). Só nos falta ponderar que todas estas iguarias não foram até hoje descritas em obras especializadas (são escassas as informações colhidas nas Histórias de vilas e aldeias ou das associações regionalistas), embora certos autores de livros de culinária tenham já anotado bem mais de uma centena de pratos da Beira-Serra.

terça-feira, 10 de março de 2009

A GASTRONOMIA DA BEIRA-SERRA - Parte I

Todos sabemos que a Gastronomia Portuguesa é rica e variada, mas entre os mil e um pratos sugeridos aos nossos "gourmets" e aos que vêm de fora em busca de sabores diferentes, tão agradáveis como saudáveis.

O surgimento das Confrarias Gastronômicas poderá contribuir positivamente para aperfeiçoar e alargar ainda mais as receitas culinárias. E a variedade faz o resto, quer no capítulo do gosto, quer no da valorização alimentar. Por isso, é natural que, para lá da atração turística, a arte culinária venha a ser, ao mesmo tempo, de grande importância econômica, conforme ilustram as apreciadas gastronomia da China, da França e da Itália, ainda que certos pratos típicos "estrangeirados" sejam por vezes exóticos ou intragáveis para o nosso paladar.

Já lá vai um bom par de anos depois que começamos a selecionar receitas e de lermos obras especializadas ou procurando informações e conselhos a respeito da Gastronomia, mas confessamos a preferência pelo regional – e não pela chamada "cozinha internacional", que é semelhante ou pelo menos parecida às de Hong Kong, Paris, Londres ou Madrid. E assim fomos somando uma vasta bibliografia, que vai até aos livros sofisticados e se dispersa por centenas de apontamentos e recortes de dezenas de publicações periódicas.

Não podíamos ignorar, é claro, Um Tratado da Cozinha Portuguesa do Século XV, cujos cadernos manuscritos ficaram anos e anos esquecidos na Biblioteca Nacional de Nápoles, atribuindo-se a autoria à Infanta portuguesa D. Maria, que pelo casamento se tornou Duquesa de Parma (as menções biográficas são variáveis e contraditórias). Porém, não é isso que importa, mas a certeza de uma raiz multisecular cientificamente documentada. Quer dizer, há que seguir a História devidamente fundamentada.

A maioria dos "livros de cozinha" abre com as receitas de sopas e caldos, pães, peixes e carnes (à moda de ...), antes de enumerar as sobremesas que destacam os queijos e doces. (Paradoxalmente, a maioria desses livros refere de maneira superficial os vinhos, embora exista uma imensa variedade, bem como de licores, aguardentes – e por falar nesta última só descobrimos a de mel que provámos pela primeira vez na casa do Padre José Vicente, em Coja, e que nos passeios que fizemos pelas serranias beiroas reencontramos num lagar da Mata de Fajão, onde nos levou o saudoso amigo.

Graças à pesquisa que temos realizado, já identificámos, na Beira-Serra, 14 receitas de sopas e caldos, migas e papa-laberças, salientando que em determinados casos há apenas a mudança no peso ou na adição de um tempero – e que o mesmo prato se repete quase igual em outros pratos que não indicam a origem, isto é, as terras onde são cozinhados. E quanto ao pão só pudemos apontar 2 tipos, embora saibamos que são em grande número os pães de milho, trigo, centeio e mesmo de cevada.

Recorda-se que nos hábitos alimentares dos Beirões, o Bucho tem uma posição singular: fala-se muito dos que são feitos em Folques, Vila Cova do Alva e, agora, em Arganil, mas descobrimos numa obra especializada referência ao de Álvares. E em outras fontes apontam-se os buchos de porco de Pardeeiros, da Benfeita e dos que se fazem ou faziam em Coja (dispomos de 3 receitas diferentes ou aproximadas), mas, infelizmente, nem todas com indicações precisas sobre a quantidade dos ingredientes utilizados.

Curiosamente, lembra-se que em Oleiros o bucho também é conhecido pelo nome de "plangaio". E listámos mais 3 tipos de bucho, em terras beirãs, mas sem nenhuma indicação da procedência. Entretanto, pudemos conhecer 2 modos de cozinhar os "Maranhos", admitindo que este bucho de carneiro ou cabrito é igualmente preparado em diferentes povoações, incluindo as pampilhosenses.

Idêntica notícia pode ser divulgada sobre o cabrito: cita-se o recheado à moda do Barril de Alva (em vários livros de culinária é mencionado de forma não exactamente igual). E há os preparados à moda de Coja, da Benfeita e de Fajão, além do estonado de Oleiros e da Pampilhosa, bem como de outros da região, porém não localizados.

Para a Chanfana, sabemos da que se faz em Vila Nova de Poiares, devendo acrescentar-se os 2 modos pampilhosenses (um deles estonado) e os benfeitense e cojense, a-par de outros preparados em terras beirãs e demais regiões do País.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O SENADOR JARBAS VASCONCELOS - CONTRA A CORRUPÇÃO NO PMDB E NO GOVERNO

O Senador Jarbas Vasconcelos é um dos políticos mais conhecidos do Brasil: representa o PMDB, que foi o combativo na luta contra os militares e foi eleito 2 vezes como Prefeito Municipal de Recife e outras 2 como Governador do Estado de Pernambuco. E não tem papas na língua, conforme acaba de confirmar na entrevista explosiva que acaba de conceder à revista Veja, a mais importante do Brasil, com uma tiragem média superior a 1.200.000 exemplares.

"Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção" – disse claramente, acentuando que certos dos seus colegas de partido disputam cargos governamentais "para fazer negócios, ganhar comissões (...) – a maioria dos peemedebistas especializou-se pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral (...) – boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção."

A cúpula ficou irritada com as acusações e alguns dirigentes reuniram-se para discutir a denúncia do senador Jarbas Vasconcelos e punir – ou não - o senador pernambucano, mas os dias passaram e tudo ficou como dantes! O deputado Henrique Eduardo Alves, líder do partido na Câmara Federal de Deputados, disse à imprensa: "É uma incoerência: ele fala tudo isso e fica no partido? Não dá pára entender." Realmente, não dá, mas o parlamentar não foi punido e é evidente que não se pode presumir o que pode acontecer... Nada?

Jornais e revistas comentaram o caso, mas é evidente que a palavra assiste apenas aos dirigentes do Partido do Movimento Democrático, que é o maior do País e preside a 1.313 Prefeituras Municipais, incluindo 6 capitais de Estado, além de 7 Governadores de Estado, 94 deputados federais e 20 senadores da Republica. Na esfera parlamentar é o partido com centenas de vereadores nos 5,565 Municípios dos 26 Estados (a capital, Brasília, tem uma administração específica: é o único Distrito Federal, com 2.557.158 habitantes (estimativa), elegem 1 Governador, 2 senadores, 8 deputados federais e 24 deputados estaduais).

Voltando ao PMDB, acrescentaremos que também somam várias centenas os deputados estaduais. Pois bem, apesar de tantos governadores, senadores, deputados federais e estaduais (destes não dispomos das cifras) e vereadores municipais, o partido que representou a Oposição democrática durante o regime dos militares esteve sempre dividido e hoje vive uma situação paradoxal, pois os seus parlamentares sectoriais, porque muitos deles apoiam o governo do Presidente Lula, conforme é o caso do senador Jarbas Vasconcelos, que defendeu no início a solidariedade a Luís Inácio Lula da Silva – "sem cargos nem benesses". Hoje, porém, mudou de opinião, disse o parlamentar pernambucano à revista "Veja", salientando que, "diante dos sucessivos escândalos, ocorridos no primeiro mandato presidencial, "percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética". E acrescentou: "O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. (...) O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro" e que ele fez a opção pela "Bolsa Família" se tornou "o maior programa assistencial de compra de votos no mundo".

Em conclusão, o senador Jarbas Vasconcelos discorda da política praticada pelo presidente Lula e não a recomendará ao PMDB que ajudou a fundar e vai apoiar a candidatura do opositor Josè Serra, atual Governador do Estado de São Paulo: "Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência."

quinta-feira, 5 de março de 2009

Os grandes escritores de Góis


Mais de uma dezena de poetas e prosadores participaram da XI Feira do Livro que se realizou em Maio na vila de Góis sob o signo dos "Escritores de Góis".

Infelizmente, não conheço todos os que levaram os seus trabalhos literários e participaram das discussões culturais que na oportunidade aconteceram na Biblioteca Municipal António Francisco Barata – que é, sem dúvida, um dos grandes autores da bela terra do Ceira.

Consideramo-lo grande, embora não seja único, porque outros há, conforme testemunha a escassa obra de D. Luís da Silveira. Escassa mas tão valiosa que figura com destaque no Cancioneiro Geral, que podemos situar entre as panorâmicas mais representativas das Letras Portuguesas dos séculos XV e XVI. Garcia de Resende, que também foi Poeta, entendeu catalogá-lo entre os mais significativos, apesar de não ter deixado (que saibamos) nenhum livro publicado.
Não pudemos incluí-lo na primeira antologia dos Poetas da Beira-Serra, publicada em 1997 pela revista cultural da Beira-Serra "Arganilia": haviam-nos prometido reunir alguns textos de D. Luís da Silveira, mas a distância também é responsável pela omissão, que tentamos reparar na edição consagrada ao município de Góis, no ano 2000. E apresentamos, então, o Poeta Goiense... nascido em Évora.

Consideramos de uma região ou de uma terra não somente aquele que lá nasceu mas também o que lá viveu. E esse foi o caso flagrante de D. Luís, cuja memória cultural vai permanecer eternamente ligada à vida e ao espírito de Góis. Tão junto ficou que nesta vila deixou perpetuada a sua figura e a sua alma na escultura tumular renascentista da Igreja Matriz que os Mestres Reinaldo dos Santos e António Nogueira Gonçalves estudaram com a maior atenção, conforme documentou a "Arganilia" de nº. 11.

Não esquecerei que D. Luis foi não apenas Poeta, mas também valoroso guerreiro, hábil diplomata e prudente conselheiro do Rei D. Manuel I (que nem sempre foi justo). Seja como for, D. Luís da Silveira, que escreveu pouco mas bem, perdurará como Poeta através dos séculos. E esta é a maior glória que o ser humano pode conquistar. E o Poeta Goiense marcou indelevelmente as páginas da História Literária de Portugal, mas a sua Poesia ainda é pouco conhecida, não obstante a excelente análise do ensaísta João Nogueira Ramos, no livro Ao longo desta ribeira.

Outro autor notável de Góis foi certamente António Francisco Barata, que fez da Lembrança da Pátria Góes" um poema de boa valia literária, editado no ano de 1899 em Évora e que teve merecida reedição na aludida "Arganilia" (cremos que foi então publicado pela 2ª. vez). Conhecemos o estudo acurado que fez da obra de António Francisco Barata o ensaísta Mário Paredes Ramos, autor dos Subsídios para a História de Góis, em boa hora reeditados por iniciativa do Dr. José Cabeças.

Enfim, as homenagens prestadas recentemente aos escritores contemporâneos de Góis foram mais do que justas, porque as suas obras jamais perecerão. Não as conhecemos todas mas F. Barata Dias, Clarisse Barata Sanches, Adriano Pacheco, Lisete Matos, João Alves Simões e João Nogueira Ramos (mencionamos apenas aqueles cujos livros conhecemos) continuam a lição de D. Luís da Silveira e António Francisco Barata – os dois autores goienses de ontem e de sempre.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Os “rosários” poéticos de Clarisse – Artigo de Março de 2008


A publicação de mais um livro de Clarisse Barata Sanches vem confirmar que a sua Poesia nasce todos os dias, de manhã, à tarde e à noite, abordando diversíssimos temas, sem omitir certas das grandes figuras goienses - e o rio Ceira, a Religião, a História, as Letras e Artes. Perde-se e acha-se no trato do folclore, incluindo festas, canções e bailados.

Reformula provérbios, rimando-os. Critica os costumes. Percorre trilhas diferentes e, entre as mais assíduas, ressaltam as do Natal - o tempo que deveria ser eterno (e consagra-lhe 10 poesias), exaltando a paz entre os homens, para conciliar o Céu e a Terra. E fala dos goienses D. Luís da Silveira (que da vila foi Senhor), de D. Gonçalo da Silveira (martirizado no reino de Monomotapa) e do poeta, historiador, ensaísta e ficcionista António Francisco Barata.

O volume vem com um prólogo de João de Castro Nunes (professor, arqueólogo e poeta), que disse: "Cantando em prosa e verso a simplicidade do seu viver quotidiano, os encantos da amizade, a placidez da vida familiar, as preferências das suas relações sociais, a natureza das suas leituras, o cântico das aves e o marulhar das águas do seu límpido e cristalino Ceira, de antiquíssima raiz linguística, Clarisse Barata Sanches faz da sua mensagem poética uma autorizada tribuna de moralização social e exaltação ambiental: encanta e educa".

O prefaciador sublinha depois a versatilidade de Clarisse, "quer se trate de criações de raiz, originais, quer de glosas e composições alheias". Por meu turno, prefiro as "criações de raiz, originais", por serem genuinamente espontâneas e de clima regional, no trato de pessoas e questões goienses. Creio, de resto, que a obra de Clarisse se projecta cada vez mais no que realmente ela vive, conforme testemunham os seus textos em prosa e verso, cujo cariz é intimamente pessoal.

E dessa natureza são igualmente as poesias religiosas (envolvendo, é claro, as de Natal), assim como as impressões acerca do folclore e dos provérbios, árvores da terra ou acordes patrióticos (é mais do que evidente o sentido do "Dia de Portugal", de Os Lusíadas, Bíblia da Pátria" e de outros textos). Receptíveis são ainda as poesias líricas, onde o amor floresce, ao lado do tom familiar ou de homenagem aos amigos.

A reunião dos capítulos temáticos poderia ser talvez mais legível e este princípio, quem sabe?, Melhor assimilado pelos jovens, afastando-os da dispersão dos assuntos - ainda não pode falar-se de Letras da Beira-Serra, na ausência de uma colecção (ou livro colectivo?) que congregue e identifique a bibliografia básica: penso no pouco que se sabe, por exemplo, da obra de D. Luís da Silveira (a não ser acompanhando o Cancioneiro Geral de Garcia Resende) e do poema Lembrança da Pátria Góes, cuja 1ª. edição é de 1899 (a 2ª. apareceu na Arganilia, (6/7 de 1997). E o D. Luís da Silveira (Senhor de Góis e Conde de Sortelha, de António Dinis, é de 1998 , enquanto Góis e seus Poetas, de Clarisse Barata Sanches, teve a 1ª. edição em 1999 e a 2ª. em 2000. Por fim, Ao longo desta ribeira, de João Nogueira Ramos, é de 2000, ano em que Arganilia reeditou a poesia de António Francisco Barata, . Se alguém conhece outros estudos que os aponte!