quarta-feira, 29 de abril de 2009

São Nuno: OS CARMELITAS C0MEMORARAM, EM SÃO PAULO, A CANONIZAÇÃO DE SÃO NUNO DE SANTA MARIA

Sem pompa, mas com grande emoção, a Paróquia Santa Teresa de Jesus promoveu, na cidade de São Paulo, Missa de Acçao de Graças pela canonização de São Nuno de Santa Maria. Dirigido pelos frades da Ordem dos Carmelitas, o templo está situado no bairro popularmente conhecido por Itaim-Bibi, na área dos Jardins Paulistanos.

Aqui vivem alguns portugueses, que se mostram muito activos entre as comunidades religiosas, oriundas de outros países e assim se explica que tenham sido numerosos os católicos que encheram literalmente a igreja de Santa Teresa, que tem como pároco Frei Rothmans Darles de Campos – que foi a Roma, acompanhado de um grupo de fiéis, a fim de assistir às solenidades comemorativas da canonização do novo Santo de Portugal. E o Vigário-Geral da Ordem dos Carmelitas em São Paulo é Frei Paulo Goularte, doutorado em Teologia e Ciências Sociais, sacerdote que nas homilias revela não só profunda religiosidade, mas também uma grande sensibilidade humana.

Frei Paulo viveu em Portugal e foi alto dirigente da Ordem dos Carmelitas no tempo em que estes frades realizaram missões conjuntas. E assim se explica que revele, sempre que é oportuno, a sua admiração por Portugal e o carinho que dedica aos portugueses, com natural relevo para os que emigraram para o Brasil. E esse contacto foi mais uma vez demonstrado por Frei Paulo na extraordinária homilia que proferiu no dia 26 de Abril, quando exaltou a acção de Portugal no Mundo e a grande religiosidade dos portugueses e a obra espiritual (e material) que eles tiveram na formação da alma dos brasileiros.

Depois da homilia, o Vigário Geral da Ordem dos Carmelitas em São Paulo apresentou um retrato de São Nuno de Santa Maria que ficará para sempre na igreja de Santa Teresa de Jesus e, na ausência de representantes oficiais, convidou o autor desta crônica a descerrar o retrato de Nun’Álvares, em nome dos Portugueses de São Paulo. Na oportumidade, o coral da igreja cantou o Hino ao Santo Nuno de Santa Maria, com letra e música enviadas de Portugal.

Os homenageados foram, é claro, Portugal e São Nuno, envolvendo por acréscimo os Carmelitas espalhados pelos quatros cantos da Terra, mas certos dos portugueses e brasileiros lamentaram a ausência das autoridades dos dois países que ilustram historicamente o passado, o presente e o futuro da Civilização Ocidental e Cristã no Mundo.

Tiveram os mentores da Paróquia de Santa Teresa de Jesus a boa ideia de redigir e imprimir centenas de folhetos (com 24 páginas): na capa, a imagem do novo Santo Carmelita, abrindo-as com destaque para uma oração : “Senhor nosso Deus, chamaste São Nuno de Santa Maria da violência das armas para o serviço pacífico de Cristo, na Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Concedei-nos, por sua intercessão, vencer toda a espécie de egoísmo para viver a lei do amor. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.”

O folheto reproduz igualmente o “Hino ao Santo Nuno de Santa Maria”, assim como uma breve história da vida e obra do homem que nunca deixará de ser também o Santo Condestável de Portugal, fechando com as seguintes palavras: “O Santo Padre, Papa Bento XVI, dispôs a 3 de Julho de 2008, a promulgação do decreto sobre o milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de Fevereiro de 2009 determinou que o Beato Nuno fosse inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de Abril de 2009”.

N.B. - Esta crônica foi enviada aos srs. Presidentes das Repúblicas de Portugal e do Brasil, Aníbal Cavaco Silva, e Luís Inácio Lula da Silva, respectivamente.
Foi igualmente remetida ao sr. Embaixador de Portugal no Brasil, João Salgueiro e transmitidas também a outras autoridades religiosas e civis, assim como a vários órgãos da imprensa portuguesa e brasileira.
O texto pode ser difundido pela Internet (conveniada ou não), nomeadamente os blogs com os quais mantemos intercambio em Portugal, Brasil e Comunidades de Língua Portuguesa.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nun’Álvares: O CONDESTÁVEL DE PORTUGAL AGORA É SANTO

Há muitos anos que temos na mais alta consideração D. Nuno Álvares Pereira, que foi o principal consolidador da Independência de Portugal, com as vitórias sobre os castelhanos em Atoleiros (08-04-1384),Aljubarrota (14-08-1385) e Valverde (02-10-1385). O título de Beato, atribuído pelo Vaticano em 1919,prenunciava a sua santificação, oficializada – finalmente! - pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009, depois de uma série de adiamentos que se explicam por certos distúrbios internacionais que a Igreja Católica não poderia ignorar.

Descendente de uma família aristocrata, D. Nuno Álvares Pereira era filho de D. Álvaro Álvares Pereira, que tinha o título honorífico de Prior da Ordem do Hospital, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal, que viveu na Corte, onde o jovem Nuno, nascido no castelo de Cernache do Bomjardim (ou em Flor da Rosa), ambicionava seguir os lendários Cavaleiros da Távola Redonda. Admirava as histórias de Cavalaria e dos Santos,pois era muito piedoso. E aos 13 anos foi armado Cavaleiro pela Rainha D. Leonor Teles, que casara com o Rei D. Fernando.

Não sabemos se os Correios acederam ao pedido de um grupo de portugueses que sugeriu a emissão de um selo que de Portugal levasse ao Mundo a imagem do novo Santo, mas não há dúvida de que a sua vida e obra foram sempre louvadas pelo Povo. E se o processo de canonização foi demorado devem ser recordadas agora algumas das figuras exponenciais da História de Portugal que ratificaram várias vezes o voto popular ao primeiro pedido de canonização foi certamente o do Rei D. Duarte, em 22-09-1437, conforme carta ao Abade João Gomes – “fazemo-vos saber que nós ainda não houvemos o desembargo que saiu do caninozamento do Santo Condestável, para que se tire a inquirição, que sobre isto se costuma fazer” (a carta está na Biblioteca Laurenziana de Florença).

Mais tarde, o Rei D. João IV propôs às Cortes de 1641 o envio de uma petição ao Papa Urbano VIII reiterando a canonização formal. E novas solicitações se fizeram em 1674 e 1894, mas somente em 15 de Janeiro de 1918 a Congregação dos Ritos aprovou a Festa de D. Nuno com a “Confirmação de Culto Antigo”. E em 14 de Novembro seguinte o Papa Bento XV considerou “Bem-Aventurado” ou “Beato” o Frade Carmelita português, que desde então pôde ser venerado nos altares católicos.

Em 1940, os Prelados de Portugal solicitaram ao Papa Pio XII a reabertura do processo de santificação de D. Nuno - e o pedido foi aceite no ano seguinte. Porém, só com o Santo Padre Bento XVI ocorreu a santificação, em Roma, aos 26 dias deste mês de Abril. Desde a morte de Frei Nuno de Santa Maria (no Convento do Carmo, em Lisboa, no dia 01-04-1431) decorreram 578 anos, mas – como diz o Povo, que é sábio – “quem espera sempre alcança!”.

Deverá recordar-se que não faltam milagres atribuídos ao Santo Condestável de Portugal, antes e depois da sua morte: em mensagem que nos enviou de Lisboa o escritor José Campos e Sousa observou-nos que nas Chronicas dos Carmelitas estão anotadas 24 curas de paralítico, alcançadas por intercessão de Frei D. Nuno, além de 21 curas de cegos e mais 21 de surdez, 18 moléstias internas e 6 aparições. E na Chronica do Condestável (publicada no reinado de D. Duarte) são-lhe atribuídos 221 milagres, mas o rol continuou a ser aumentado desde os tempos do Rei D. Afonso e nos seguintes.

Porquê mais de cinco séculos para que o Vaticano chegasse à Santificação? Os católicos admitem que este caminho é longo e cheio de obstáculos. Para eles, os milagres não se inventam – é imprescindível documentá-los. José Campos e Sousa esclarece que na longa peregrinação do processo foi preciso derrubar grandes obstáculos: “Poderosas pressões diplomáticas de certo país sempre se opuseram a este desejo dos portugueses”. É por demais evidente que o “certo país” foi o orgulhoso reino de Castela que até hoje não se conforma por ter sido derrotado três vezes seguidas pelo pequeno Portugal...

Bem explicou Luís de Camões:
"Dom Nuno Álvares digo: verdadeiro
Açoute de soberbos Castelhanos"
e no poema “Nun’Alvares Pereira” Fernando Pessoa acrescentou:
"Sperança consummada
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a entrada se ver!”

terça-feira, 14 de abril de 2009

PARA A HISTÓRIA DE UNHAIS-O-VELHO

Com a publicação de A Freguesia de Unhais-o-Velho (Subsídios para uma monografia), lançou Aníbal Pacheco, em 2008, o seu 4º. Livro, que de certo modo continua a caminhada iniciada no ano 2000 com Coisas a Minha Terra (a vida em Unhais-o-Velho há meio século), Regionalismo Serrano (2001) e em 2004, A Paróquia de S. Mateus (do século XVII ao século XX).

A 1ª. parte trata de “O Regionalismo da Pampilhosa da Serra” e na 2ª. é abordado e “O Concelho da Pampilhosa da Serra e a 2ª. aborda “O Regionalismo Pampilhosense”, enquanto a 3ª. insere a série de “Crônicas regionalistas” dos anos que vão de 1985 a 1994. O temas são mais vastos, mas todos se enquadram, afinal, no mesmo movimento de valorização da Pampilhosa, que deve muito do seu desenvolvimento econômico, social e cultural à iniciativa dos seus habitantes.

Fixemo-nos, por agora, na Freguesia de Unhais-o-Velho, onde nasceu Aníbal Pacheco, que em nota prévia lamenta “a escassez de documentação histórica ou de testemunhas orais”- aliás, o mesmo ocorre quantas vezes com os documentos que são esquecidos e desfeitos pelos anos. Não obstante, os habitantes tentavam relacionar-se uns com os outros – e o Estado quantas vezes limitava-se a expedir os avisos dos impostos a pagar, com pouco ou nenhum interesse pelos “povos isolados das nossas serras”, E que restava ao povo? Vivia com animação as festas tradicionais “em honra dos padroeiros dos seus templos, com a simplicidade de quem vive em comunidade onde todos se estimam”.

E mais se queixa o autor das dificuldades enfrentadas por aqueles que tentam falar do passado comunitário – quem é que duvida? A História das aldeias e vilas da Província são relegadas quase sempre a um plano secundarissimo, ainda que em circunstâncias como a vivida por Aníbal Pacheco seja bem mais importante publicar um estudo sobre a História local do que os discursos daqueles políticos que só aparecem quando pedem votos, prometendo mundos e fundos que raramente vão além das promessas.
No mesmo diapasão vai o prefaciador do livro, Padre Joel Carlos Baptista Antunes, que não se escusa de relembrar as dificuldades dos corajosos serranos, AO PROCLAMAR: “Mas do que era a vida do sentido comunitário evidenciado nas águas de adua, nos moinhos e fornos ao serviço de todos, dos lagares, da cultura e trato do linho e do centeio, do espírito de interajuda em debulhas e descamisadas, da solidariedade em situação de doença, das tradições culturais, das diversões em momentos festivos, da pastorícia que alimentava famílias e limpava as encostas altaneiras reduzindo, assim, a probabilidade dos fogos, do carvão que se fazia da raiz da moiteira, soterrada enquanto incandescente, do tabaco terreano que alimentava vícios e mobilizava os fiscais, da fé cristã que se manifestava transpondo montanhas para não faltar à missa dominical” de tudo isto e muito mais sacrifícios dos irmãos serranos fala o Padre Joel. E ninguém poderá desmenti-lo, porque os nossos montanheses da Beira-Serra (e de outras regiões lusas) têm vivido abandonados dos poderes públicos e não singram senão quando emigram dentro e fora do país natal?

É claro que Aníbal Pacheco se limita ao discurso histórico mas sabe que as nossas vidas serranas são difíceis, como eram já no passado. A sua pesquisa e as suas observações em torno da Freguesia de Unhais-da-Serra desdobram-se através de 14 capítulos e de um anexo subsidiário – o grande percurso histórico das terras pequenas onde nascemos, uma por uma (desde Unhais, passando por Aradas, Arranhadouro, Malhadas do Rei, Meãs, Portela de Unhais, Povoa da Raposeira e Seladinhas) nomes de povoações que cheiram a urze, alecrim e rosmaninho ou mato fresco da madrugada ou às maçãs, pêras, pêssegos, uvas e outros perfumes dos arbustos e árvores, flores ou rosas e aos matizes insólitos e nunca esquecidos e sempre apetecidos – enfim, a Serra! de que falou tão comovidamente o nosso Poeta das Três Entradas – quando é que teremos antologiados para a eternidade os poemas beirões de Brás Garcia Mascarenhas, D. Luis da Silveira, Simões Dias, Sanches de Frias, António Francisco Barata, Augusto Nunes Pereira,Vasco de Campos e outros, ao lado dos contemporâneos.

Concluindo, assinalaremos que Aníbal Pacheco fecha a sua História da Freguesia de Unhais-o-Velho com o manuscrito dos estatutos da Confraria do Santíssimo Sacramento, instituída na igreja de S. Mateus, em 21 de Setembro de 1709 – há trezentos anos!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

SANTO ANTÓNIO “É” VEREADOR NO BRASIL

Aguarela Brasileira (*)

A TV Globo noticiou no seu programa dominical “Fantástico”, que tem enorme audiência, em 13-04-2008, que Santo António de Lisboa era vereador municipal de Iguarassú (Estado de Pernambuco) e que, conforme os outros edis, recebia $3.800,00 mensais.

Dado que ele já está no céu há cerca de 800 anos, o dinheiro tem sido entregue pontualmente a uma Associação Franciscana local – e a TV filmou até a freira que ia ao erário municipal buscar o subsídio e depositá-lo na conta bancária associativa. Até aí nada demais, mas um apresentador da “Globo” comentou “o caso”, observando que o popular santo lisboeta continuava a rezar certamente pelos habitantes de Iguarassú, orientando as autoridades no sentido do progresso material e da probidade dos homens públicos – obrigação que nem sempre é cumprida pelos vereadores, deputados, etc.

Já com certa ironia, o comentarista da televisão formulou votos para que o nobre vereador continuasse a sua boa missão e que poderia ser até mesmo eleito deputado federal - o seu vencimento seria de R$80.000, pois não receberia os subsídios complementares, que representam, no mínimo, mais R$20.000, sob o pretexto de que o parlamentar tem de pagar transportes, correio, telefones, etc, etc, etc.

Ora, no Paraíso, o Padroeiro de Lisboa não gasta nenhum dos suplementos atribuídos aos eleitos para os Municípios, Estados, República Federal, ministros e outros que tais, pois ele trata directamente de todos os assuntos, até agora limitados a Iguarassú , mas que seriam alargados legalmente por todo o País, considerando que o nosso Santo António não fala em excesso, nem jamais se envolveu nos actos condenáveis dos corruptos, ladrões e malandros useiros e vezeiros de toda a espécie. Como homem foi sempre correcto enquanto esteve na terra, e ainda hoje vai operando milagres para quem os merece e até protege os namorados!

O programa “Fantástico” não revelou a origem da generosa devoção antoniana, mas supomos que ela vem do pedido feito pelos iguarassuenses ao Rei de Portugal, D. José I, que nos termos da Carta Régia de 23-XI-1754 (haveremos de republicá-la na íntegra, pois vale a pena) proclamou: “sou servido permittir-vos, por rezolução de oito do corrente tomada em consulta do meo conselho ultramarino, que havendo sobejos nos bens desse conselho deis esmolla de vinte e sette mil réis annualmente aos Religiosos do dito Santo, com o titulo de Protector dessa Camara” (...)

Uma fotocópia da Carta Régia de D. José I foi transcrita no livro Santo António de Lisboa militar no Brasil, de José Carlos de Macedo Soares ( Livraria José Olympio-Editora, Rio de Janeiro, 1942). Autor de mais de mais de três dezenas de livros sobre História, Direito, Política, etc, ainda conhecemos o Dr. Macedo Soares, que visitámos um dia para lhe solicitarmos informações sobre Santo António. E o precioso volume (com muitas outras histórias antonianas e dezenas de ilustrações) foi-nos oferecido pelo livreiro luso—paulista Luís de Oliveira Dias (“e que Santo António o proteja”). Aliás, o livro foi encontro milagroso: depois da Missa, celebrada na Capela de Santo António (São Paulo), assinalando o 8º centenário do santo português, fui à livraria do amigo Luís, que não estava: entrando na Sala Camões, vi o livro do Dr. Macedo Soares: guardei-o na expectativa de adquiri-lo, mas o Luís resolveu oferecer-mo, pois sabia do meu interesse pelo grande santo e taumaturgo.

Tenho lido referências ao “militar” que Santo António não foi, mas quero assinalar que ele foi protector de numerosos regimentos não só no Brasil mas também, em Portugal (onde um general cujo nome agora não me ocorre defendeu a promoção de Coronel ao posto de General do Exército Português). É evidente que para os muitos milhões de devotos a Santo António, Ele merece muito mais!

(*) Com este título, publiquei durante anos crônicas no diário “O Primeiro de Janeiro” e em outros jornais portugueses e brasileiros, sob o pseudônimo de “J.A.”, porque a censura fascista cortava quase todos os artigos publicados com o meu nome. Com esta crônica, pretendo recomeçar esta “Aguarela Brasileira” sempre que puder.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

OS VITRAIS DA BENEFICENCIA PORTUGUESA EM SÃO PAULO CONTAM A HISTÓRIA DE PORTUGAL E BRASIL

Fundada em 2 de Outubro de 1859, a Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência mantém em São Paulo o Hospital São Joaquim, que dispõe de cerca de 2000 leitos e 1500 médicos, uma cinquentena de salas de cirurgia e equipamentos do mais alto nível.

Não é somente por isso que se destaca mas também porque reúne um dos mais importantes acervos artístico-históricos, principalmente no domínio dos vitrais – 48, distribuídos pelo salão nobre “Padre Manuel da Nóbrega” (33 painéis), Capela (11) e fachada (4). Idealizado pelo Com. Abílio Brenha da Fontoura, é “um translúcido e colorido relicário a guardar, como um todo unido no tempo e no espaço, Portugal e Brasil”, disse o Poeta Guilherme de Almeida, que com os seus conhecimentos de heráldica teve participação direta na obra, cujos retratos e brasões foram ilustrados por Zucaro (pintor), Aristach (desenhista) e Leonardo Renhauer (responsável pela cor), sendo a execução de Conrado Sorgenitch, ao asso que a reprodução do políptico de São Vicente é cópia do original que se conserva em Lisboa.

Na entrada principal do edifício, apontam-se as figuras de São Joaquim (patrono do hospital), o Rei D. Afonso Henriques, a Rainha Santa Isabel e Pedro Álvares Cabral (na figuara à direita), esclarecendo –se que as peças são de 3 épocas distintas – as da fachada vieram do primeiro hospital (de 1876), as do salão nobre têm pouco mais de meio século e as da Capela são da década 60 do século XX, com imagens dos santos e beatos: Rainha Santa Isabel, São João de Deus, São Gonçalo, São João de Brito, Santo António de Lisboa e os Beatos Nuno Álvares Pereira e Inácio de Azevedo, alem dos batizado de Cristo e do índio Diogo e mais 2 imagens sacras.

No fundo da salão nobre, encontra-se a cópia fiel do discutido políptico de São Vicente de Fora, atribuído a Nuno Gonçalves, separado em vitrais com 10 colunas com as seguintes inscrições: “Painel dos Frades” ,”Painel dos Pescadores”- “Lisboa E.D. 1465” – “Nuno Gonçalves” – “Painel do Infante”, “Painel dos Cavaleiros” – “Painel da Relíquia”. Dos estudos em torno desta obra , salientamos a conferência “A Epopéia da Raça nos Vitrais da Beneficência Portuguesa”. proferida em 9 de Setembro de 1961 pelo historiador Pedro Calmon, segundo o qual o salão Pe. Manuel da Nóbrega é “o mais belo e sugestivo do país” – uma presença do passado “mais viva e poética”, como se fosse um Livro de Horas, “ilustrado e velho livro iluminado com as grandes cenas e personagens insignes da nossa tradição, convivendo com as sombras veneráveis dos homens que fizeram o Brasil”.

Explicando o sentido e o espírito dos vitrais, acrescentou Pedro Calmon: “A história principia com o sonho do Infante de Sagres deitando, das alturas do promontório, o olhar profético pelo mar ‘nunca dantes navegado’, vendo, e prevendo, para lá do horizonte físico, o perfil verde da terra adivinhada. Começa a história do Brasil com a epopéia das navegações e descobertas, quando o Infante D. Henrique como que abriu, com,as suas mãos poderosas, as cortinas que velavam o mundo novo: e isto é incomparavelmente sugerido pelo políptico que se conserva no Museu de Arte de Lisboa, as famosas tábuas de Nuno Gonçalves”.

Os restantes vitrais do “Salão Padre Manuel da Nóbrega” ilustram, do lado direito, o Infante D. Henrique (o homem que sonhou e promoveu as pioneiras viagens inter-oceânicas), o Rei D. Manuel I (1495-1521), o Rei D, João III (1521-1557) e o colonizador e povoador Martim Afonso de Sousa (1530-1533), anotando-se igualmente o conjunto de 4 vitrais evocativos da chegada de Pedro Álvares Cabral e seus companheiros a Porto Seguro, bem como outros vitrais com os nomes e brasões dos navegantes e descobridores das novas terras.

Do lado esquerdo do grande salão, enumeram-se os homens que consolidaram o território de Vera Cruz: João Ramalho (1531), que fundou Santo André (a primeira povoação do planalto) e foi co-fundador de São Paulo, vindo depois os Padres Manuel da Nóbrega e Manuel de Paiva (que lançaram as bases de São Paulo), os quatro vitrais dos Bandeirantes (“Andam sempre de vigia / em contínuos perigos / com mil sobres-saltos de Corpo e Alma”), vendo-se também o Padre António Vieira e a Rainha D. Leonor, que fundou em 1498 as Misericórdias, cujo espírito haveria de se alargar no século XIX às Beneficências dispersas por Portugal, Brasil e outras terras distantes. E constam ainda desta banda da sala nobre os brasões e pessoas que desbravaram e consolidaram a Nação Brasileira.

Por tudo isto se dá razão ao historiador Pedro Calmon, ao ponderar que o “Salão Padre Manuel da Nóbrega” é mais do que um símbolo: “Realmente, atinge o idioma a sua maturidade, o sentimento nacional desponta e afirma-se. A fisionomia do povo como que adquire o seu contorno físico, o Brasil ergue-se na oratória daquele padre (António Vieira) que tinha o discernimento do político e a visão do profeta.”

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO FOI FUNDADA NO RIO DE JANEIRO HÁ 390 ANOS

Deve ser a mais antiga das associações luso-brasileiras, de cuja Federação participa. É com certeza uma das mais antigas associações luso-brasileiras do Rio de Janeiro, pois surgiu logo após a Santa Casa de Misericórdia (que é dos anos de 1582 a 1584).

Em 20 de Março de 1619 seria instituída na cidade a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, que, para lá do caráter religioso tem ainda, entre as suas principais funções, a assistência de caráter social e médico-hospitalar. Os fundadores foram os portugueses Luiz de Figueiredo e sua esposa Antónia Carneiro, que pediram apoio aos frades do Convento de Santo António para levar adiante a missão – primeiro, ergueram a pequena igreja antoniana, graças a esmolas e depois os Irmãos começaram a quotizar-se. E com outras doações construíram um hospital, que cresceu e do centro da antiga capital foi transferido em 1933 para o bairro da Tijuca.

Em 1975, edificaram um prédio de 15 andares, onde funciona um moderno centro cirúrgico de transplantes, além da Nefrologia, o Instituto de Cardiologia, os serviços de Radiologia (com novos equipamentos de tomografia computadorizada, ressonância magnética e ultra-sonografia) e os de Oftalmologia, Urologia, Fisiologia e até Odontologia, a-par da Maternidade e de outros sectores, cujos cargos são desempenhados por médicos de reconhecida competência profissional.

Ao mesmo tempo, a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência mantém 4 creches que recebem crianças pobres e um Centro Comunitário que garante atendimento médico e diversos cursos para adultos. A destacar que a instituição fundou também uma escola elementar profissionalizante, aberta à população da zona portuária carioca.

A caminhada desta Venerável Ordem tem sido áspera, no decorrer dos séculos,mas aqueles que a servem têm o espírito das Misericórdias que a Rainha D. Leonor lançou em 1498, com células vivas que há mais de 500 anos vêm contribuindo para a sobrevivência de milhões de portugueses e de outras origens não apenas em Portugal (onde estão em atividade cerca de 400 Santas Casas) mas igualmente no Brasil (com 500 unidades autônomas) e que inspiraram centenas de entidades assistenciais no Brasil, incluindo as numerosas Beneficências Portuguesas e outras instituições com denominações diferentes, porém com os mesmos desígnios, cumprindo tarefas que extrapolam o espírito da cristandade.

Os portugueses que emigraram para o Brasil, antes e depois de 7 de Setembro de 1822, têm dado sobejas provas de solidariedade à Nação de onde vieram e ao Pais de adoção. Por isso, criaram associações que continuam a resistir às crises mais graves, como é o desvio do fluxo emigratório para outras rotas, a partir da segunda metade do século XX. A diferença é que os portugueses chegaram ao Brasil e continuam a participar da edificação de um novo país que eles próprios criaram - é uma nação que começou a ser formada há mais de cinco séculos.

Ora, os dirigentes da entidade que lançou raízes em 1619 sempre quiseram ir ainda mais longe e, depois de um hospital eficientemente equipado, projetam agora uma "Cidade da Saúde" utilizando as áreas disponíveis para o recreio e o lazer da população. Para já, completam a primeira fase da obra – o programa teve começo, mas não terá fim.